sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

***na rua***

Ele tinha cabelos bagunçados, uma tatuagem que precisava de retoque e um jeito manso. Ela tinha uma filha, olhos azuis e coxas grossas. E apesar das aparências, o jeito dela não era nada manso.
Se encontraram pela cidade. “Me disseram que eu ficava com você, mas era um cara com um apelido que acharam parecido com o seu. Cansei de dizer que não, acho melhor a gente ficar e acabar com esse mal entendido”. Ele riu e a levou para casa. O vizinho resolveu se vingar do mundo e estava no meio da rua, com um pedaço de pau. Ela bem quis que o vizinho fosse morar no inferno.
Não se viram por anos. Numa noite de carnaval, ela se encantou pelo sorriso dele. Amanheceram juntos e separadamente seguiram seus caminhos. Até se encontrarem de novo. Um beijo escondido, telefones trocados e algumas conversas depois, ele disse que dormiria na casa dela. Ela, sem juízo algum, concordou. Na metade de uma garrafa de vinho ele a levou para o quarto. A beijou de leve, a beijou com vontade, a beijou muito. Sintonia. No dia seguinte ela chegou atrasada na pós-graduação. Ele se despediu com um beijo: sabiam que seria assim...sereno.
Às vezes se irritavam mutuamente, como um código. Ele dizia que ia casar com uma russa. Ela com um espanhol. O  celular dele sempre tocava na hora errada: isso a irritava de fato. Às vezes ele mandava um recadinho pedindo isso ou aquilo: ela invariavelmente atendia. Um dia ela começou a gostar dele. Ele sumiu. Ela achou melhor parar de gostar. Às vezes ela tem uma recaída.
Sempre que se encontram ele bagunça os cabelos dela. Sempre que se encontram ela geme o nome dele...

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