Um belo dia você está na casa da sua amiga e ela olha bem pra sua cara e diz:
"Você está apaixonada."
"Como assim? "
"Está, só falou no cara o dia todo, não aguento mais a sua cara de boba"
Decreta-se então que a paixão começou e fica combinado que tudo bem que ele é especial e as amigas terão a obrigação implícita de te avisar qualquer evento ligado ao cara. As amigas reais, claro. Não aquela vadia que você vai odiar depois de descobrir que ela furou esse combinado implícito e um dia deu de bêbada e resolveu que tudo bem ficar com ele, afinal vocês não são nada. Pra essa variedade de pessoa, duas soluções possíveis: ou você espera a oportunidade de dar o troco, desde que seja com diferença pra mais ou você define que a amizade é um bem maior ( não se iluda, essa pessoa não é tua amiga, fikadika). Como assim, não tem como chutar essa infeliz pra longe? Tem, mas primeiro o troco, always!
Enfim, a paixão...você se pergunta como todas as músicas parecem dizer exatamente aquilo que você queria cantar, e se tivesse tido a ideia primeiro seria perfeito...você se pega sorrindo, lembrando de algo. E cada vez que vocês se encontram, se olham, se beijam, se enconstam é todo um filme a ser escrito, lembrado e perpetuado na memória: haja hoje pra tanto ontem.
Paixão é bom e vicia. Tem também a paixão que mete medo. Essa é perigosa num grau alto: antes mesmo dela se instalar, meio que vem um aviso, uma última chance de pular antes, de parar com tudo. Masoquistas que somos, ignoramos esse aviso e aí, quando é tarde demais, quando já foi, você se diz ou diz pra alguém (mas diz pra alguém pra se ouvir dizer) a clássica "Acho que estou a fim do ____________________ de verdade." é quase uma sentença de uma doença sem cura: se doeu antes de começar, se deu medo antes de ser admitida, pensa quando for? Quando o cara souber? Quando acabar?Acha que esse tipo de paixão não acaba? Claro que acaba e você se ferra, certeza.
O quase ótimo é quando a paixão vira outra coisa. Vira amizade, vira amor, vira passado. Se acaba em paixão mesmo ela volta um dia, cobrando uma conta atrasada absurda:o coração não admite nada mal resolvido. É como a reencarnação da paixão, será que existe isso? Olha, tá aqui, sua paixão fez a passagem, está descansando num outro plano. Pronto, passou um tempo, olha ele ali na rua, você solteira. Que coisa, vocês saindo de novo? Mudou, menina, veja você. Mudou coisa nenhuma, os defeitos dele estão no dna, não são mutáveis, talvez um dia...É, a medicina avança. E mais uma vez a paixão vai pro limbo, pro purgatório, fica lá, num canto sofrido. Até a redenção. Depois de um tempo, mais uma vez você ali na rua, andando, pensando que não vai dar tempo e em tudo que vai precisar tirar da bolsa pra poder passar na porta giratória do banco e lá está ele, mais uma vez. E você espera pelo habitual gelinho na barriga e nada. Nada. Não tem gelinho, não tem nenhum tipo de desorientação, nada. Vocês conversam, ele diz que te liga e você sorri. Mas assim que vira as costas, já imagina a desculpa que vai dar quando ele ligar, porque não quer sair com ele, não quer ouvir as mesmas histórias, não quer saber das ideias dele. Nada. A paixão virou nada. Tipo triste esse de fim. Virar coisa alguma.
E tem também a paixão se construindo. Se você nota essa artimanha da vida, vê as coisas acontecendo desde o início. E mais uma vez envolve quem está próximo, faz perguntas para respostas que você quer ouvir...
"Peguei o telefone dele"
"Com quem?"
"Com o google"
"Como assim? E vai dizer isso? O cara assusta, pensa você, sabendo que um cara deu um google no teu nome...inventa uma história aí"
"É"
"Mas que sorte, hein? Como assim, o telefone dele? O da casa?"
"Nada, o celular!"
"Que sorte! E agora?"
"E agora eu não sei, por isso você está aqui"
E vocês imaginarão. E pensarão mil coisas. Rirão antes mesmo de qualquer mínima coisa acontecer. E vão perguntar pra outras pessoas, que serão convidadas e melhorar a história. E depois vão marcar o dia que finalmente esse plano será executado, e todos estarão atentos pra saber o que aconteceu. A paixão que era sua, só sua, virou uma alegria coletiva. E se der certo, nem que seja um pouquinho certo, todo mundo fica feliz, nem que seja um pouquinho. E se der tudo errado, vão rir demais, primeiro de você, depois com você. E depois vocês podem se reencontrar, e dar tudo muito certo. Ou não. E essa paixão virar história.